Você



Por um mundo com ronrons



Dizem que aquele som emitido pelos gatos chamado “ronrom” significa felicidade; happiness; bonheur; felicidad. Ou seja, quando os graciosos bichanos ronronam, estão em pleno estado de contemplação da paz de espírito.

Imagine um mundo em que as pessoas emitissem um som que permitisse saber quando estão plenamente felizes e com paz de espírito. Certamente, não seria um som muito ouvido. Seria como a música clássica, apenas poucos a emitem, menos ainda a ouvem porque, além de transmitir o som, é necessária a sensibilidade de percebê-lo. Hoje em dia no mundo dos fast-foods, que ultrapassaram a cozinha e adentraram o hall dos relacionamentos e trabalho, nos coloca numa situação de vida em que a paz dificilmente é pensada, tão pouco sentida, visto a necessidade da agilidade sem atenção aos detalhes.

As pessoas são felizes? Plenamente felizes? Nem os gatos o são, ronronam em momentos de felicidade e não o tempo inteiro. Que dirá nós, reles humanos! Acometidos da vigilante sabotagem mental, que nos rouba a sanidade e nos levam a análise buscando a tal da felicidade.

É bem verdade que nunca estamos felizes, porque nunca nos contentamos com o que temos. Criamos metas impossíveis de serem alcançadas e se a alcançamos, temos uma amostra grátis e limitada de felicidade, que normalmente dura bem pouco, embora deseje-se a eternidade. Procuramos sempre o que não temos, sonhamos com o que desejamos para nos tornar felizes. Por que não sermos felizes com o que temos com o simples fato de respirar, que a muitos não é tão simples assim? Por que não nos alegrarmos com pequenas sutilezas que na urgência da vida perdemos de vista, como um sorriso sincero que alguém nos oferece ou um “eu te amo” mesmo que apressado de uma pessoa especial ou o simples fato de não ter motivo de se estar triste?

Ter vida com saúde já deveria ser motivo de termos felicidade, mas somos naturalmente insatisfeitos e buscamos incansavelmente a felicidade através de objetos, viagens, pessoas, metas que pensamos que nos trará a sonhada felicidade, que não dura e nos escapa pelos dedos como areia da praia ao tentarmos segurá-la.

Se nós fizéssemos ronrom como os gatos quando estivéssemos em plena felicidade talvez soubéssemos o que ela é e aprendêssemos como a segurá-la e fazê-la durar por mais do que um momento. Afinal, a vida não é feita de eternidade, mas de momentos. Quem dera que os momentos felizes se multiplicassem e pudéssemos saber quando o outro está feliz por um simples som e não com as complexidades da vida, que nos fariam perguntar “como você está?”. Um simples som, e já saberíamos que aquela pessoa está em paz e feliz e, como os gatos, é o momento perfeito de aproximação.

Analine Campos.

0 comentários:

Postar um comentário